domingo, 8 de junho de 2008

Nogueira's Port - Aloirado Claro Doce


Nogueira’s Port
Porto Aloirado Claro Doce
Sociedade de Vinhos F. Nogueira (Vila Nova de Gaia)
16,5/20

Esta é uma velha garrafa de família, desprezada durante duas gerações, até que este enófilo curioso se sentiu tentado a dar-lhe um bom uso. Desconheço a idade exacta, até porque a companhia em questão já não existe, nem é fácil recolher indicações sobre o seu destino na Internet, no entanto estimo que a aquisição tenha ocorrido há perto de 40 anos…
É muito curiosa a designação Aloirado Claro Doce, indicadora também da sua antiguidade, já que desde há muitos anos que se generalizou a designação tawny para os vinhos tintos envelhecidos em pipa (e por isso com acentuado processo de oxidação, que acelera a descoloração característica deste tipo de envelhecimento do Porto).
O facto de ser apelidado de Aloirado Claro deveria significar que se trata de um vinho que atingiu a etapa mais alta do processo de envelhecimento em barris. Atingiu o pico da sua carreira: a cor dourada.
Estamos portanto perante um vinho que já deveria ter algumas dezenas de anos (pelo menos em idade média do lote) quando foi engarrafado (aparentemente por volta de finais dos anos 60) permanecendo desde então mais 40 anos em garrafa (embora calculo que nem sempre nas melhores condições de preservação).
Mostrou uma cor âmbar linda, claramente denunciadora da idade, e uma limpeza e brilho que as fracas condições de armazenamento não faziam prever. A viscosidade apresentou-se contudo mediana, sobretudo se considerarmos a avançada idade…
O nariz revela algum álcool, mas exibe excelentes notas de frutos secos e mel às quais, após agitar, advém ainda uma frescura quase metálica.
É um vinho redondo e cremoso na boca, com notas de passas, mel, bolo inglês, num conjunto personalizado e carregado de finesse. Afinal os receios mostraram-se infundados, parece estar em excelente forma. Muito macio e elegante sentindo-se como única aresta o álcool surpreendentemente vivo para a idade. Termina com grande elegância e com boa persistência.
Sem dúvida, uma boa surpresa.

Casal d'Além Arinto 2006


Casal d’Além Arinto 2006
Bucelas DOC
Carlos Canário (Bucelas)
14,5/20

Já tive oportunidade de tecer algumas considerações acerca das virtudes do Arinto e das potencialidades da região de Bucelas para o seu cultivo. A sua semelhança com os vinhos do Reno fez já correr muita tinta, numa acesa polémica sobre se foram os alemães a levarem os Arinto até ao Reno ou se foram os portugueses (há quem afirme que por ordem do Marquês de Pombal) a importarem as castas teutónicas para terras do concelho de Loures. Certo é que desde a Guerra Peninsular, ao que parece por iniciativa do Duque de Wellington e como oferta ao Rei Jorge III, os vinhos de Bucelas são conhecidos e apreciados em terras britânicas, conhecido como “Lisbon Hock”, o vinho de Lisboa.
Depois de uma fase de declínio e quase extinção, os últimos 20 anos têm sido de profunda renovação e de forte investimento no vinho de Bucelas, particularmente no Arinto (embora também o Sercial/Esgana-Cão e o Rabo-de-Ovelha sejam admitidos a certificação como Bucelas DOC). Além das históricas Caves Velhas (que tiveram origem nas velhas adegas Camillo Alves), proprietárias de marcas de grande tradição como o Bucellas e que tem hoje o seu património vinícola alargado a várias regiões do país (Douro, Dão, Bairrada, Vinhos Verdes, Estremadura, Palmela, Carcavelos, Colares, Vinho do Porto, Alentejo e Ribatejo) temos um novo peso pesado, actualmente propriedade do mediático comendador Joe Berardo, a Companhia das Quintas, cuja origem esteve na Quinta da Romeira, em Bucelas, mas à qual se juntaram muitas outras espalhadas por todo o país vinícola (Pancas, Cardo, Farizoa entre outras), proprietária do best seller da região o famoso Prova Régia.
Mas para além destes grandes produtores há também muitos pequenos a investir em Bucelas e no Arinto. E é de um desses que vou falar hoje, cujo vinho (um extreme de Arinto) Casal d’Além me foi igualmente apresentado por gentileza do restaurante Quinta do Almirante, em Ponte de Frielas.
Carlos Canário formou-se em enologia em 1989 e esteve dois anos a estagiar no Sonoma Valley, na Califórnia, onde adquiriu o saber do novo mundo vinícola. De regresso a Portugal trabalhou como enólogo em vários produtores nacionais, da Bairrada ao Ribatejo, passando naturalmente por Bucelas, até se lançar, em 2003, num projecto próprio denominado Casal d’Além.
Este Casal d’Além 2006 apresenta-se de cor amarelo palha, límpido e de brilho e viscosidade médias. Tem um nariz muito frutado, típico Arinto, onde as notas doces e ácidas se cruzam numa indefinição sedutora. Secundariamente revela-se fresco com a uva de mesa a encontrar agradáveis notas de menta e leve mineral. Na boca revelou contudo uma secura que o nariz não fazia prever (secura essa que a oxidação foi progressivamente eliminando, apesar da agressividade inicial). Paladar limpo mas seco. Acidez não muito elevada, o que o torna um vinho ligeiramente plano. Algumas notas de fruta (citrinos, marmelos e maçã verde) num vinho que se mostrou de perfil mais gastronómico. Finalizou limpo e correcto e com alguma persistência.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Frei Bernardo Branco (sem data)


Vinho Regional Beiras
Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo
14,5/20

Esta é uma nota de prova especial. Pela primeira vez, reconhecido nos meus dotes enófilos e na qualidade de coleccionador de notas de prova, foram-me oferecidas garrafas por um restaurante, especialmente para sobre elas emitir parecer, vertido nas presentes páginas. Subida honra e responsabilidade que me foi conferida pelo Restaurante Quinta do Almirante, a que não posso deixar de corresponder com avisada mas isenta prova deste Frei Bernardo, que constitui o vinho da casa naquele afamado ícone gastronómico do concelho de Loures.
Elaborado a partir das castas síria, rabo de ovelha e malvasia fina este Frei Bernardo (de Brito, em homenagem ao Cronista Mor do Reino e teólogo que residiu em Figueira de Castelo Rodrigo, em finais do Séc. XVI) apresenta-se muito bem, com cor citrina e límpida, bom brilho e escassa concentração, como se exige num branco. O aroma é frutado, com notas de fruta cozida e levíssimo anisado. Após agitar liberta-se intensa frescura, algum leve mineral e breves notas citrinas e de frutos tropicais. Na boca é redondo, frutado, elegante, não escondendo a sua origem beirã. Um vinho suave e levemente mineral que compensa em elegância o que porventura lhe falte em complexidade. Nota-se bem a nobreza de algumas das castas que o compõem, embora temperada por alguma rusticidade que o menor rigor do lote não esconde. Finaliza com persistência mediana e boa fruta.
Custa menos de dois euros por garrafa (na Cooperativa), o que faz dele um caso sério em termos de relação preço/qualidade.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Companhia das Lezírias Rosé


Vinho Regional Ribatejano
Companhia das Lezírias (Samora Correia)
2,49€ Jumbo
14/20

Já devem ter reparado, com certeza, que de há uns tempos a esta parte os supermercados aparecem inundados de vinho rosé. Bom, talvez inundados seja exagero… Mas já se intrigou porque razão, havendo tão pouco português interessado em vinho rosé (tradicionalmente é um vinho destinado a senhoras e… à exportação), de um momento para o outro tudo quanto é produtor nacional decidiu lançar um rosé?
Tudo tem uma explicação e por vezes mais simples do que parece à primeira vista. Na verdade os produtores bem sabem que em Portugal se vende pouco rosé, mas também pouco investem na sua produção. A maioria dos rosés que por aí se vendem (embora também haja boas e honrosas excepções) são meros subprodutos do vinho tinto que, em vez de se deitar fora, se engarrafa e vende com uma atraente cor rosada.
Eu passo a explicar. De há uns anos a esta parte o mercado passou a só apreciar tintos. E não basta ser tinto, há que ser retinto, isto é concentrado, complexo, frutado em suma, novo-mundista.
Mas como é que, de um momento para o outro, as nossas castas tradicionais deixaram de produzir vinhos rosados e pouco graduados e passaram a dar origem a poderosas bombas de cor e de fruta, com teores alcoólicos que já ultrapassam os 15 graus?
Bom há muito saber e tecnologia aplicada (e avultadas fortunas que, na maioria das vezes já viram melhores dias) mas um dos truques mais comuns é efectuar a sangria da cuba do vinho tinto. Ao sangrá-lo, isto é, ao retirar-se parte do sumo proveniente da prensagem da uva, aumenta-se a concentração do mosto e a respectiva cor, originando assim vinhos mais complexos e frutados.
Resta pois encontrar um destino para o sumo sangrado… Se tiver umas garrafas vazias à mão basta enchê-las e pô-las à venda como vinho rosé!
Assim se explica este súbito interesse dos produtores nacionais pelo vinho rosé para consumo interno.
Este rosé da Companhia das Lezírias, sem data no rótulo, não fugirá certamente a esta lógica produtiva economicista. Ainda assim apresenta-se bem, com uma bonita cor rosa velho (que denuncia claramente a sua origem sangrada, porquanto esta técnica potencia a cor e os açucares dos rosés), com bom brilho e concentração elevada (eu diria até que já vi tintos menos concentrados). Um nariz aromático com notas frutadas e florais, leve mineral e balsâmico, num conjunto simples mas agradável. Após agitar surge grande frescura com notas metálicas e até animais!!! (será tinto, será rosé, branco não é certamente…).
Na boca revela corpo médio mas acidez baixa. Alguma fruta vermelha (morangos, framboesas) num vinho não muito doce. Se tivesse um pouco mais de frescura, bebia-se seguramente com maior prazer.
Finaliza correcto e de média duração.
Sem esconder a sua natureza de subproduto (que até tens aspectos positivos como a belíssima cor) é um vinho correcto e competente. Falta-lhe contudo alguma acidez e consequentemente frescura, aspectos essenciais num vinho de Verão como é o rosé…
Mas acompanhou satisfatoriamente um jantar de comida chinesa.

sábado, 10 de maio de 2008

Alabastro Branco 2007


Vinho Regional Alentejano
Caves Aliança (Borba)
3,19€ Modelo
16/20

Dizem os especialistas que 2007 vai ser um ano espectacular para os brancos nacionais, capaz de os catapultar para um patamar qualitativo nunca antes atingido.
No entanto os portugueses puseram os brancos na prateleira, de há alguns anos a esta parte. Por razões que a própria razão desconhece, beber branco passou de moda (à excepção dos verdes que, apesar de tudo, mantiveram o seu lugar no coração dos portugueses, sobretudo no Verão e a acompanhar peixes e mariscos) e vinho passou a ser sinónimo de tinto. Há quem o justifique por razões de saúde (como se o branco fosse menos vinho que o tinto…), de estética gustativa (como na célebre frase feita – “Bebemos vinho ou preferes branco?”) e até os produtores começaram a tratar o branco como produto de segunda categoria (fruto da desvalorização que a menor procura provocou).
Como todos os fenómenos de moda, o ciclo dos tintos parece estar a terminar. Cada vez surgem mais e melhores brancos e até os respectivos preços começam a subir (havendo regiões no país, como o Alentejo, em que a boa uva branca já é paga substancialmente melhor do que a tinta).
Um bom ano vinícola, como parece ter sido 2007, poderá ser o empurrão que os brancos nacionais careciam para se imporem definitivamente aquém e além fronteiras.
Este Alabastro está longe de ser uma referência incontornável das Caves Aliança. Produzido na Quinta da Terrugem em Borba, de onde saem ícones como o T de Terrugem ou Quinta da Terrugem, é ainda assim, e por enquanto, o topo de gama branco da casa (ainda que referenciado como mero vinho tradicional, abaixo da gama Premium onde se insere por exemplo o Galeria produzido pela casa na Bairrada a partir da casta Bical). Este posicionamento dos brancos na gama Aliança alentejana (e apesar da moda porque passam castas como a Antão Vaz ou o Roupeiro, que compõem o lote) é sintomático da escassa importância que o branco representa na estratégia comercial da Aliança para o Alentejo… Penso que terão de a rever brevemente, pois o mercado apresenta sinais evidentes de que, muito em breve, serão os brancos a estar na moda.
Então e este Alabastro 2007, vale a pena ou não? Perguntam os leitores mais impacientes, cansados das minhas morosas deambulações. Apresenta-se impecavelmente: límpido, brilhante de viscosidade média e baixa concentração. O nariz é frutado e muito conseguido, com notas de maçã e pêra envoltas em leve madeira, num conjunto atraente e muito fresco. Após agitar exala um aroma notável de enorme frescura frutada. A boca é redonda com a acidez elevada mas sem comprometer, antes acentuando a frescura com notas de maçã reineta num conjunto muito agradável e apelativo, de perfil moderno e excelente apetência gastronómica. Finaliza correcto, de média duração, sempre com a acidez da fruta a dominar, e a viciar…
Um vinho de excelente qualidade e por módica quantia.

domingo, 4 de maio de 2008

Morgado de Sta. Catherina Reserva 2006


Bucelas DOC
Companhia das Quintas (Bucelas)
8,25€ Jumbo
17/20

Diz a tradição que Portugal não é um país de brancos. No entanto regiões há no nosso país que construíram precisamente a sua tradição vinícola à custa dos brancos, sendo Bucelas um dos seus melhores exemplos. Após anos de letargia, redescobriu-se as virtudes do Arinto como casta maior do nosso património ampelográfico e promoveu-se os vinhos de Bucelas ao estatuto de estrelato, muito por culpa dos enormes investimentos realizados nas vinhas e adegas da região, designadamente pela Companhia das Quintas, proprietária da histórica Quinta da Romeira (com vinhas a perder de vista que acolhem o visitante desprevenido ao longo de vários quilómetros da CREL).
Este Morgado de Sta. Catherina é um peso pesado da casa que, após 2006 e por efeito da melhoria qualitativa desenvolvida pelo produtor, passou a constituir o Reserva dos brancos extremes de Arinto, elaborados a partir das uvas da Quinta da Romeira. E pode dizer-se que bem o merece. De aspecto límpido e brilhante, com concentração e viscosidade medianas, é um vinho visualmente perfeito e apelativo. Exibe um nariz frutado mas mineral, com grande frescura e elegância. Notas anisadas e fruta diversa e original (para além do ananás, surgem subtilmente a maça e a pêra, a conferirem-lhe distinção e originalidade). Após agitar revela a sua enorme frescura frutada numa essência elegante e perfumada (digna de comercialização nas melhores perfumarias…). Na boca domina a fruta. Ananás, frutos tropicais num conjunto sem exageros, com mineralidade e uma sublime elegância. Acidez contida sem nunca beliscar a frescura, corpo médio, mas com enorme leveza. Pura finesse.
Final limpo e prolongado em total sintonia com as notas deixadas.
Um excelente branco a mostrar que tudo parece estar a mudar nos brancos nacionais. E para melhor.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Evel Grande Escolha 2001


Douro DOC
Real Companhia Velha (Alijó)
14,99€ Feira Nova
16,5/20

O topo de gama da Real Companhia Velha é elaborado com recurso às castas Touriga Nacional, Touriga Francesa, Tinta Roriz e Tinto Cão e envelhecido durante 18 meses em barricas de carvalho francês (na sua maioria novas). É um vinho de excelente apresentação. Boa cor (rubi escura), limpidez imaculada e um brilho enorme. O nariz exibe muita fruta, preta e vermelha, compotas num casamento feliz com a madeira nova. Após agitar surge alguma complexidade com notas minerais e vegetais conjugadas com uma frescura especiada que lhe dá carácter. Apresenta bom corpo, com presença e elegância. Muita fruta vermelha e silvestre envolta em madeira. Os taninos são aveludados e a acidez muito equilibrada, sem exageros mas também sem comprometer a frescura. Um vinho de inegável qualidade, que finaliza distinto e prolongado.