quarta-feira, 14 de maio de 2008

Companhia das Lezírias Rosé


Vinho Regional Ribatejano
Companhia das Lezírias (Samora Correia)
2,49€ Jumbo
14/20

Já devem ter reparado, com certeza, que de há uns tempos a esta parte os supermercados aparecem inundados de vinho rosé. Bom, talvez inundados seja exagero… Mas já se intrigou porque razão, havendo tão pouco português interessado em vinho rosé (tradicionalmente é um vinho destinado a senhoras e… à exportação), de um momento para o outro tudo quanto é produtor nacional decidiu lançar um rosé?
Tudo tem uma explicação e por vezes mais simples do que parece à primeira vista. Na verdade os produtores bem sabem que em Portugal se vende pouco rosé, mas também pouco investem na sua produção. A maioria dos rosés que por aí se vendem (embora também haja boas e honrosas excepções) são meros subprodutos do vinho tinto que, em vez de se deitar fora, se engarrafa e vende com uma atraente cor rosada.
Eu passo a explicar. De há uns anos a esta parte o mercado passou a só apreciar tintos. E não basta ser tinto, há que ser retinto, isto é concentrado, complexo, frutado em suma, novo-mundista.
Mas como é que, de um momento para o outro, as nossas castas tradicionais deixaram de produzir vinhos rosados e pouco graduados e passaram a dar origem a poderosas bombas de cor e de fruta, com teores alcoólicos que já ultrapassam os 15 graus?
Bom há muito saber e tecnologia aplicada (e avultadas fortunas que, na maioria das vezes já viram melhores dias) mas um dos truques mais comuns é efectuar a sangria da cuba do vinho tinto. Ao sangrá-lo, isto é, ao retirar-se parte do sumo proveniente da prensagem da uva, aumenta-se a concentração do mosto e a respectiva cor, originando assim vinhos mais complexos e frutados.
Resta pois encontrar um destino para o sumo sangrado… Se tiver umas garrafas vazias à mão basta enchê-las e pô-las à venda como vinho rosé!
Assim se explica este súbito interesse dos produtores nacionais pelo vinho rosé para consumo interno.
Este rosé da Companhia das Lezírias, sem data no rótulo, não fugirá certamente a esta lógica produtiva economicista. Ainda assim apresenta-se bem, com uma bonita cor rosa velho (que denuncia claramente a sua origem sangrada, porquanto esta técnica potencia a cor e os açucares dos rosés), com bom brilho e concentração elevada (eu diria até que já vi tintos menos concentrados). Um nariz aromático com notas frutadas e florais, leve mineral e balsâmico, num conjunto simples mas agradável. Após agitar surge grande frescura com notas metálicas e até animais!!! (será tinto, será rosé, branco não é certamente…).
Na boca revela corpo médio mas acidez baixa. Alguma fruta vermelha (morangos, framboesas) num vinho não muito doce. Se tivesse um pouco mais de frescura, bebia-se seguramente com maior prazer.
Finaliza correcto e de média duração.
Sem esconder a sua natureza de subproduto (que até tens aspectos positivos como a belíssima cor) é um vinho correcto e competente. Falta-lhe contudo alguma acidez e consequentemente frescura, aspectos essenciais num vinho de Verão como é o rosé…
Mas acompanhou satisfatoriamente um jantar de comida chinesa.

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