domingo, 8 de junho de 2008

Casal d'Além Arinto 2006


Casal d’Além Arinto 2006
Bucelas DOC
Carlos Canário (Bucelas)
14,5/20

Já tive oportunidade de tecer algumas considerações acerca das virtudes do Arinto e das potencialidades da região de Bucelas para o seu cultivo. A sua semelhança com os vinhos do Reno fez já correr muita tinta, numa acesa polémica sobre se foram os alemães a levarem os Arinto até ao Reno ou se foram os portugueses (há quem afirme que por ordem do Marquês de Pombal) a importarem as castas teutónicas para terras do concelho de Loures. Certo é que desde a Guerra Peninsular, ao que parece por iniciativa do Duque de Wellington e como oferta ao Rei Jorge III, os vinhos de Bucelas são conhecidos e apreciados em terras britânicas, conhecido como “Lisbon Hock”, o vinho de Lisboa.
Depois de uma fase de declínio e quase extinção, os últimos 20 anos têm sido de profunda renovação e de forte investimento no vinho de Bucelas, particularmente no Arinto (embora também o Sercial/Esgana-Cão e o Rabo-de-Ovelha sejam admitidos a certificação como Bucelas DOC). Além das históricas Caves Velhas (que tiveram origem nas velhas adegas Camillo Alves), proprietárias de marcas de grande tradição como o Bucellas e que tem hoje o seu património vinícola alargado a várias regiões do país (Douro, Dão, Bairrada, Vinhos Verdes, Estremadura, Palmela, Carcavelos, Colares, Vinho do Porto, Alentejo e Ribatejo) temos um novo peso pesado, actualmente propriedade do mediático comendador Joe Berardo, a Companhia das Quintas, cuja origem esteve na Quinta da Romeira, em Bucelas, mas à qual se juntaram muitas outras espalhadas por todo o país vinícola (Pancas, Cardo, Farizoa entre outras), proprietária do best seller da região o famoso Prova Régia.
Mas para além destes grandes produtores há também muitos pequenos a investir em Bucelas e no Arinto. E é de um desses que vou falar hoje, cujo vinho (um extreme de Arinto) Casal d’Além me foi igualmente apresentado por gentileza do restaurante Quinta do Almirante, em Ponte de Frielas.
Carlos Canário formou-se em enologia em 1989 e esteve dois anos a estagiar no Sonoma Valley, na Califórnia, onde adquiriu o saber do novo mundo vinícola. De regresso a Portugal trabalhou como enólogo em vários produtores nacionais, da Bairrada ao Ribatejo, passando naturalmente por Bucelas, até se lançar, em 2003, num projecto próprio denominado Casal d’Além.
Este Casal d’Além 2006 apresenta-se de cor amarelo palha, límpido e de brilho e viscosidade médias. Tem um nariz muito frutado, típico Arinto, onde as notas doces e ácidas se cruzam numa indefinição sedutora. Secundariamente revela-se fresco com a uva de mesa a encontrar agradáveis notas de menta e leve mineral. Na boca revelou contudo uma secura que o nariz não fazia prever (secura essa que a oxidação foi progressivamente eliminando, apesar da agressividade inicial). Paladar limpo mas seco. Acidez não muito elevada, o que o torna um vinho ligeiramente plano. Algumas notas de fruta (citrinos, marmelos e maçã verde) num vinho que se mostrou de perfil mais gastronómico. Finalizou limpo e correcto e com alguma persistência.

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