sábado, 27 de dezembro de 2008

CARM Reserva 2005 Branco



Douro Doc
Casa Agrícola Reboredo Madeira (Vila Nova de Foz Côa)
Garrafeira Nacional, 10,30€
16,5/20

Elaborado a partir de castas tradicionais durienses plantadas em vinhas velhas situadas no Douro Superior (Almendra, Vila Nova de Foz Côa) e estagiado em carvalho francês com “batonnage”, é pois um vinho onde se conjugam a velha tradição vinícola do Douro com as mais modernas técnicas de vinificação.
As castas utilizadas são várias, como é habitual nas velhas parcelas de vinha do Douro, mas predominam a Verdelho, Síria e Rabigato.
A cor é amarelo palha, com elevada concentração, bom brilho e viscosidade média a elevada. Surpreende pela cor e concentração, que mais parecem anunciar um vinho velho.
O aroma é mineral, fresco e frutado. Elegante, com boa fruta (predomina o ananás) e leve anisado. Muito aromático e com aquela faceta mineral sedutora, característica dos bons vinhos do Douro. Exibe mesmo um agradável bouquet frutado.
Na boca mostra corpo e acidez médias. É um branco limonado, com predominância clara dos citrinos, e claramente mais seco que doce. É no entanto de uma secura agradável, austera mas sedutora e elegante que o tornam um excelente companheiro da mesa.
Final muito correcto, seco e longevo.
Um excelente branco do Douro a um preço muito convidativo.

Quinta do Vallado Tawny 10 Anos



Quinta do Vallado (Peso da Régua)
Napoleão, 22.95€
16,5/20

A Quinta do Vallado é uma propriedade histórica do Douro. Situada a escassos 10 quilómetros do Peso da Régua, o centro histórico do Douro vinhateiro, estende-se por ambas as margens do rio Corgo, com 38 hectares de vinha que já foi pertença de Dona Antónia Adelaide Ferreira, e ainda hoje se mantém na família, e está referenciada como produtora de vinho do Porto desde, pelo menos, o ano de 1716. Destes 38 hectares, cerca de 26 são de vinhas muito antigas, com mais de 60 anos de idade.
Este Tawny 10 anos é proveniente dessas vinhas velhas, com mistura de várias castas onde predominam a tinta amarela e a tinta roriz, elaborado com recurso a sucessivos estágios em madeira e engarrafamento em Dezembro de 2003. Recebeu uma medalha de ouro no International Wine Challenge de 2004.
De bela cor âmbar é um vinho de apresentação irrepreensível, com excelente brilho, viscosidade e concentração médias.
O nariz é delicado mas muito aromático, com notas de mel, frutos secos, bolo inglês e leves notas de tabaco. Após agitar sente-se ligeiramente os 20 graus de teor alcoólico, mas também uma agradável frescura. Surgem ainda leves e elegantes notas florais, bem casadas com os aromas primários.
Na boca é um vinho cremoso e distinto. De corpo médio e acidez no ponto, revela madeira nova, leve fumado, muita fruta cristalizada e frutos secos. Finaliza persistente e com alguma complexidade.
Um excelente Tawny. Porém, por este preço, já se acede a alguns vintage e LBV que conseguem elevar a fasquia do desfrute de um bom Porto a patamares mais elevados. A menos que se prefira a delicadeza de um Tawny velho… Aí este Quinta do Vallado 10 anos é seguramente uma referência a reter.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Termeão Pássaro Branco 2004



Bairrada DOC
Manuel Santos Campolargo (Anadia)
6,59€ Corte inglês
15,5/20

Manuel Campolargo foi um dos pioneiros da nova Bairrada vinícola. Quando os vinhos da região pareciam afundar-se num marasmo sem futuro, excepção feita talvez aos espumantes, graças à tradição do leitão bairradino, Manuel Campolargo ousou avançar para a produção própria e para o plantio de novas castas, nacionais e importadas, algumas pela primeira vez experimentadas em terras da Bairrada. Os primeiros vinhos Campolargo saíram para o mercado em 2000, mas a adega apenas foi construída em 2004
Com duas propriedades, a Quinta de São Mateus, com 110 ha de vinha, e a Quinta de Vale de Azar, com 60 ha, os vinhos Campolargo recorrem a uma enorme variedade de castas desde a tradicional Baga ao Pinot Noir, passando pela inevitável Touriga Nacional, a Tinta Barroca do Douro, a Periquita sadina ou a bordalesa Cabernet Sauvignon, só para mencionar as tintas.
O Termeão, Pássaro Branco (existe também o Pássaro Vermelho, mais exclusivo, com estágio prolongado em madeira nova) é elaborado a partir das castas Touriga Nacional, Castelão Nacional e Cabernet Sauvignon, com fermentação meloláctica em balseiros seguida de estágio não muito prolongado em barricas usadas.
De bela cor granada e bom brilho, mostra viscosidade e concentração medianas. O nariz exibe acentuadas notas balsâmicas, fruta silvestre, muito vegetal e leve mineral, num perfil fresco e aberto. Secundariamente continua o vegetal a dominar, verde, fresco com algum metal e ligeiro toque de legumes cozidos. Na boca é um vinho leve e original. Com a acidez no ponto, quase crocante, revela-se um excelente companheiro da mesa. É um vinho elegante e diferente, bem distante das concentrações adocicadas que vão dominando o mercado. Aqui domina o vegetal, com distinção e acentuada vocação gastronómica. Finaliza correcto e de boa duração.

Casa de Santa Vitória 2004



Vinho Regional Alentejano
Casa de Santa Vitória (Beja)
4,50€ Modelo
15/20


Fruto de um projecto pioneiro, o de unir o turismo rural ao vinho, a Casa de Santa Vitória apresenta-se assim ao enófilo com uma curiosidade acrescida. Elaborado a partir de uvas das castas Trincadeira, Cabernet Sauvignon, Aragonez e Syrah, cultivadas nos vastos terrenos que circundam o empreendimento Vila Galé Clube de Campo, na freguesia de Santa Vitória (que dá nome ao vinho) do concelho de Beja, com as vinhas e as adegas abertas aos olhares curiosos dos muitos milhares de visitantes que se deslocam anualmente a este acolhedor empreendimento turístico do Baixo Alentejo, parece deixar sempre no ar a pergunta: será vinho para turistas? Estamos perante um mero aproveitamento de terras, não utilizadas na construção do empreendimento, destinadas assim a garantir ao visitante o vislumbre duma nesga da rotina agrícola alentejana ou, pelo contrário, este Clube de Campo Vila Galé assume-se como um verdadeiro projecto triicéfalo, com a agricultura, a vinicultura e o turismo a aparecerem com igual destaque na prioridade, rigor e profissionalismo do investimento.
Se considerarmos o volume de produção vinícola desta propriedade, os avultados valores investidos, designadamente na construção de uma moderna adega, e os prémios já alcançados pelos seus vinhos, onde figuram verdadeiros topos de gama, novos ícones da vinicultura alentejana (sobretudo do novo Alentejo vinícola, quase todo distribuído pelo distrito de Beja) como o Reserva ou o Inevitável, dificilmente restarão dúvidas quanto à seriedade deste projecto vinícola da Casa de Santa Vitória.
Este colheita 2004 mostra brilho e viscosidade médias, mas uma concentração elevada, numa bonita cor rubi. O nariz possui elegantes notas florais e muita fruta vermelha, num misto de frescura e doçura que ora remete para os morangos e vegetais frescos ora para as suculentas compotas da região. Um aroma primário muito conseguido. Após agitar surgem os couros característicos das castas utilizadas e dos solos alentejanos, temperados por ligeiro metal e verniz. Na boca tem corpo e acidez medianas com a adstringência correcta, sem exageros. A fruta está lá, vermelha e silvestre, mas também algum verniz que lhe confere um toque algo licoroso. É um vinho fresco mas mais doce que seco, com boa fruta. Finaliza correcto e com agradável persistência.
Pena o perfil ligeiramente tecnológico… Ainda assim, assinalável relação preço/qualidade.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Herdade do Pinheiro Reserva 2002


Vinho Regional Alentejano
Herdade do Pinheiro (Ferreira do Alentejo)
17,99€ Continente
16,5/20

Galardoado com uma medalha de ouro no International Wine Challenge 2006 este reserva alentejano é elaborado a partir das castas Aragonez, Trincadeira e Touriga Nacional, sob responsabilidade dos enólogos José António Fonseca e Luís Morgado Leão. Teve estágio de 9 meses em madeira de carvalho francês e americano.
Proveniente da região de Ferreira do Alentejo, no distrito de Beja, é assim um novo alentejano, isto é, um vinho proveniente de uma região do Alentejo sem grande tradição vinícola. No entanto muito se tem produzido de qualidade fora das tradicionais regiões vinícolas de além Tejo nos últimos anos, mostrando que essas antigas divisões estão cada vez mais condenadas ao esquecimento. Pelo menos para o grande público, para quem a marca “Alentejo” se afigura cada vez mais como móbil de compra, pouco preocupado em indagar se adquire um DOC ou um mais vulgar regional alentejano…
De cor rubi escuro, quase opaco, é um vinho de viscosidade média e bom brilho. Numa clara opção, assinalável só pelo aspecto, pelo perfil concentrado.
Boas notas de fruta vermelha e silvestre no nariz, conjugadas com as habituais sugestões de campo e terra, características da região. Após agitar surgem previsíveis notas metálicas e de couro, conjugadas com terra molhada, café e alguma frescura vegetal que se mostra bem-vinda, num conjunto exuberante e de assinalável complexidade.
A boca revela um corpo médio de acidez elevada. Ainda assim a adstringência é contida. Um vinho complexo e concentrado, com notas de café, fruta silvestre, compotas e groselhas. Um conjunto que se impõe, mais do que conquista. Num perfil novo-mundista que persegue a exuberância, pela concentração.
Final apenas médio.

Quinta do Portal Moscatel Reserva 1996



Moscatel Douro DOC
Quinta do Portal (Sabrosa)
12,15€ Napoleão
16/20

O Moscatel Galego é uma casta tradicional duriense que tem alcançado enorme sucesso comercial, sobretudo através da Adega Cooperativa de Favaios, que produz e vende anualmente muitos milhões de litros do seu Moscatel local, verdadeira instituição da região, quer no mercado interno, quer na exportação.
O interesse comercial da casta tem levado outros produtores da região a lançarem, também eles, no mercado os seus próprios Moscatéis, aplicando porventura critérios selectivos e tecnologia de produção menos acessíveis ao mais massificado produto das Cooperativas. É o caso deste Reserva 1996, produzido pela Quinta do Portal com uvas oriundas precisamente do Planalto de Favaios, um produtor conceituado do Douro (eleito produtor do ano 2007 pela Revista de Vinhos), que nos habituámos a admirar pelos seus excelentes tintos (o seu porta-estandarte é o elitista Auru) e Portos.
Com bom brilho e uma bonita cor âmbar, bem característica do moscatel, mostra concentração mais baixa do que os seus congéneres setubalenses e viscosidade apenas média.
O nariz exibe notas florais conjugadas com as mais habituais referências a bolo inglês, citrinas (laranja e tangerina) e a mel. É ainda assim um nariz fresco, sobretudo para um vinho fortificado. Essa frescura intensifica-se após agitar, com a fruta a surgir fresca e as notas florais a deixarem um agradável bouquet perfumado.
A boca é cremosa e suave. Não perde as características florais nem as citrinas. Mal se sente o álcool. Um vinho elegante e agradável, de média persistência, que fica porém aquém dos bons exemplos elaborados a partir da casta Moscatel de Setúbal, de que aqui dei nota recente.
Tem boas qualidades, mas falta-lhe o porte aristocrático que os bons moscatéis de Setúbal adquirem com os anos. Aparentemente 12 anos não foram suficientes para que este moscatel galego as adquirisse…

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Singularis 2004



Vinho Regional Alentejano
Paulo Laureano Vinus (Vidigueira)
5,95€ Revista de Vinhos
16/20

O alentejano Paulo Laureano, formado em engenharia agrícola pela Universidade de Évora, é um dos enólogos portugueses mais conhecidos e requisitados, sobretudo no sul do país onde, desde há vários anos, desenvolve importantes tarefas como consultor de dezenas de produtores, entre eles alguns de grande fama e tradição, como a Herdade do Mouchão.
Em 1998 lançou-se na produção de vinhos próprios fundando a Eborae Vitis e Vinus, com marcas que cedo ganharam projecção no mercado como o Dolium, este Singularis e também o Vale da Torre, elaborados a partir de uvas próprias (oriundas de uma vinha de 10 ha perto de Évora) mas sobretudo de uvas seleccionadas, adquiridas a terceiros. Em 2007 deu um novo passo neste seu projecto de produção de vinhos próprios, adquirindo uma nova propriedade com 70 ha de vinha na Vidigueira e uma adega, que tratou de ampliar com as mais modernas tecnologias. Fundou duas novas empresas, a Paulo Laureano Vinus dedicada à produção própria e a Eborae Consulting dedicada à consultoria, que assim sucederam nos negócios da extinta Eborae Vitis e Vinus.
O objectivo declarado é a produção de vinhos de alta qualidade, exclusivamente elaborados a partir de castas tradicionais portuguesas, com uma forte aposta na exportação. A única excepção é a francesa Alicante Bouschet que, fruto da extraordinária adaptação ao solo alentejano e à sua quase extinção em terras gaulesas, se assume hoje em dia como lusitana por adopção.
Este Singularis é elaborado a partir das castas Trincadeira e Aragonês e tem uns comedidos 13,5% de teor alcoólico, para os tempos que correm e para a região alentejana, entenda-se.
Com uma bela cor granada, boa concentração e bom brilho, é um vinho que se apresenta bem, apesar da viscosidade elevada. Bastante aromático, com notas campestres e terrosas e de fruta silvestre e vermelha. Após agitar surgem notas metálicas e leve marroquinaria. Termina com ligeiro bouquet vegetal.
Na boca denota acidez crocante e adstringência mediana. É contudo um vinho surpreendentemente fresco, contrariando a tendência da generalidade dos vinhos alentejanos. A fruta é sobretudo silvestre e roxa, com framboesas e amoras a sobressaírem num conjunto agradável e muito amigo da mesa.
Finaliza correcto e de média duração.