sábado, 6 de setembro de 2008

Vinha do Almo Escolha 2004


Vinho Regional Alentejano
Herdade do Perdigão (Monforte)
6,89€ Jumbo
15,5/20

Elaborado a partir das castas Trincadeira, Aragonez e Touriga Nacional, este alentejano de Monforte, produzido pela célebre Herdade do Perdigão, ícone recente da vinicultura alentejana, estagiou 16 meses em barricas de carvalho francês e americano e, após o engarrafamento, manteve-se ainda 12 meses em garrafa antes da comercialização.
Com uns ousados 15 graus de volume alcoólico, dir-se-ia que este Vinha do Almo Escolha ataca mais em força do que em jeito (perdoem-se o futebolismo)… No entanto, o generoso estágio de que foi objecto e bem assim a presença da Touriga Nacional no lote, conferem-lhe uma frescura que vai, felizmente, muito além do que a sua exagerada graduação faria supor.
De cor granada e boa concentração, embora não opaco, mostra uma viscosidade média e um excelente brilho. No nariz sobressaem as notas vegetais, mentoladas até, da Touriga, juntamente com frutos roxos e vermelhos macerados, tudo envolto em atraentes especiarias. Após agitar pouco muda no aroma, aligeira-se a menta, agora com leves notas canforadas e surgem breves notas de café. Surpreendentemente vegetal, para um vinho que passou 16 meses em barrica.
Na boca não esconde o seu carácter alentejano. Bom corpo com a acidez e adstringência em alta, embora acalmando com a oxigenação. A frescura vegetal do nariz mantém-se, uma vez mais temperada pela fruta macerada e ligeiro balsâmico. Um vinho quente e encorpado, mas com uma inesperada leveza e frescura, para um alentejano (a Serra de São Mamede ali tão perto faz destes milagres). Entra contudo demasiado directo. Falta-lhe alguma complexidade na boca para atingir a excelência… E já agora, se não for pedir muito, um bocadinho menos de álcool!
Finaliza correcto, sem surpresas e de média persistência.

domingo, 31 de agosto de 2008

Moscatel de Setúbal 1998


Moscatel de Setúbal 1998
Setúbal DOC
Bacalhoa Vinhos (Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal)
13,50€ Jumbo
17,5/20

A tradição portuguesa em matéria de vinhos fortificados é grande e de longa data.
Apesar dos produtores ingleses durienses reclamarem a autoria do vinho do Porto, pela adição de brandy ao vinho do Douro destinado à exportação (para ajudar à sua conservação) durante o séc. XVII, a verdade é que a adição de aguardente ao vinho era já uma prática antiga em Portugal, sendo frequentemente utilizada durante a época dos descobrimentos como forma de garantir a conservação do vinho, durante as longas viagens marítimas intercontinentais. São aliás famosos os moscatéis de “torna-viagem” (recentemente redescobertos pela firma José Maria da Fonseca), que eram colocados em barricas de madeira nos navios de partida, e levados a correr mundo nos seus porões, forma de acelerar o seu envelhecimento. No regresso eram vendidos a peso de oiro, como verdadeiro néctar dos Deuses.
Tais tradições são reveladoras da antiguidade do processo de fortificar o vinho em terras lusitanas e explicam a profusão de vinhos fortificados que sempre por cá existiu.
O que torna o vinho fortificado é o facto da sua fermentação não ser completa, sendo parada numa fase inicial (dois ou três dias depois do início), através da adição de uma aguardente vínica neutra (com cerca de 77º de álcool). Assim o vinho fica naturalmente doce (visto o açúcar natural das uvas não se transformar completamente em álcool) e mais forte do que os restantes vinhos (entre 18 e 22º de álcool).
Além do celebérrimo Vinho do Porto, exportado em grandes quantidades desde o séc. XVII por comerciantes ingleses radicados nas cidades do Porto e de Vila Nova de Gaia, outros vinhos fortificados atingiram fama em Portugal e no estrangeiro. Caso flagrante é o vinho da Madeira, cuja produção remonta quase à descoberta da ilha em 1419. Foi com um Madeira, bebida preferida de Thomas Jefferson, que os americanos brindaram à sua independência em 4 de Julho de 1776 e foi também por um Madeira e uma perna de frango que Falstaff vendeu a sua alma, em Henrique IV de William Shakespeare.
O vinho dos Biscoitos, na ilha Terceira do arquipélago dos Açores, é outro exemplo antigo de vinho fortificado. Elaborado a partir da casta verdelho, criada nas pedras vulcânicas daquele arquipélago atlante, ganhou fama e proveito até que a filoxera quase acabou com ele nos anos de 1870, quando era presença obrigatória na mesa de reis e czares. Desde então tem sido progressiva, mas timidamente, redescoberto, ainda longe porém da fama e importância económica de outrora.
Exemplo típico e antigo é também o vinho de Carcavelos, produzido nas terras arenosas da foz do Tejo, bem perto da cidade de Lisboa. Hoje está reduzido a uma mera curiosidade histórica, produzido em quantidades ridículas e vendido principescamente. O próprio Marquês de Pombal produzia-o nas terras do seu palácio e quinta de Oeiras e era de tal modo apreciado que integrou uma oferta de el rei D. José I à corte de Pequim, em 1752.
Não há adega cooperativa deste país que não produza um “vinho abafado”, designação com que o povo premeia os vinhos fortificados, de preferência com aquela aguardente típica de cada região, tão apreciada pelos autóctones.
Serve esta introdução para vos trazer mais um vinho fortificado português de enorme e antiga tradição: o Moscatel de Setúbal. No caso o moscatel produzido pela Bacalhôa Vinhos, empresa de Vila Nogueira de Azeitão com as suas vinhas estrategicamente localizadas nas encostas da Serra da Arrábida. Esta empresa, que já foi João Pires & Filhos e passou, nos autos 80 e sob a batuta de António Francisco Avillez a evidenciar-se no mercado com vinhos como o JP, Quinta da Bacalhoa, Má Partilha ou Cova da Ursa pertence hoje ao império de Joe Berardo, que tratou de modernizar as vinhas e adegas e ampliar largamente a área de plantio, que atinge presentemente os 500 hectares.
Este vinho, exclusivamente elaborado a partir da nobre casta moscatel de Setúbal, colhida em 1998 e produzida na vinha da Serra da Ursa (então com 18 anos de idade), foi brevemente fermentado em contacto pelicular, sendo a fermentação interrompida pela adição de aguardente vínica. Após a maceração foi transfegado e as suas massas prensadas. Seguiram-se oito anos de estágio em barricas de carvalho de 200 litros, importadas da Escócia e previamente usadas no envelhecimento de whisky de malte, numa estufa com grandes amplitudes térmicas (processo que visa simular os velhos “torna-viagem” supra referidos). Foi finalmente engarrafado, já este ano, originando apenas 35.000 garrafas.
De cor âmbar, límpida e brilhante, muito bela, é um vinho que conquista a vista antes de apelar aos restantes sentidos. O nariz é nobre e envolvente, com notas de citrinos, casca de laranja cristalizada, bolo-rei (ou bolo inglês, se preferirem) num conjunto muito aromático e nada impositivo, onde o álcool mal denota. Só após agitar surgem, sem exageros, os 18 graus de volume alcoólico se bem que acompanhados de uma frescura citrina e vegetal, quase surpreendente. Na boca é pura souplesse… Delicioso, com notas de tangerina e mel, envoltas numa suavidade cremosa, leve e apelativa. Perdura na boca, interminável, com enorme classe.
Um magnífico moscatel, vendido nas grandes superfícies a pouco mais de 13,00€. Experimente-o com uma tablete de chocolate suíço, para um requintado e original desfrute.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Drink (Port) Pink


Croft Pink
Porto
Cerca de 9,5€ Jumbo
14/20

Este Croft Pink é, antes de mais, uma ousada jogada de marketing, que visa penetrar segmentos de mercado, até agora, pouco permeáveis ao vinho em geral e ao Porto em particular. Na verdade, provavelmente por razões que a própria razão desconhece, a maioria dos mais jovens (refiro-me aos menores de 30 anos de idade, para não ferir susceptibilidades) prefere beber cerveja nas suas saídas nocturnas e, quando ocasionalmente se aventura por uma long drink, prefere um Licor Beirão “on the rocks”, um vermute ou então um whisky (preferencialmente um JB ou um Cutty Sark novos, para não magoar muito a carteira…).
Um vinho do Porto?! Isso é bebida de senhoras idosas, servida geralmente pelas avozinhas bem intencionadas às visitas, quase sempre acompanhada por um sortido de bolachinhas Cuétara, comprado na mercearia da esquina.
Convenhamos que esta imagem não agrada muito aos produtores de vinho do Porto! É verdade que também se associa o Porto à aristocracia (sobretudo anglo-saxónica) mas isso são prazeres requintados e exclusivistas, distantes das bolsas dos comuns mortais! Será?
Um whisky escocês corrente custa mais de 10,00€ na maioria dos supermercados, valor suficiente para adquirir um Porto de razoável qualidade. Mas se olharmos para o preço de scotch de 12 anos ou mais, então poucos Porto ficarão fora do orçamento, mesmo de categorias superiores como o Vintage ou LBV.
Portanto, não é pelo preço que o Porto não pega em Portugal! Então deve ser pela imagem… Vamos pegar num Porto Ruby, aligeirar-lhe a cor (que fica de um rosa choque, sedutor e apelativo) e mandar servi-lo com gelo, nas noites quentes do Algarve (já havia o Portonic para as noites da Ribeira).
A bebida fica alegre, ousada, feminina… Bem longe da austeridade tradicional de um bom Vintage. Longe também da complexidade sedutora de um LBV. Longe ainda da enorme beleza e profundidade de velho Tawny. Fica apenas um Ruby, mais doce e cor-de-rosa, com sabor a groselha e que precisa de muito gelo para disfarçar a doçura…
Convenhamos que, para um Porto, é muito pouco…
Resta saber se será suficiente para convencer os putos a largarem o Licor Beirão (que custa menos de 5,00€ a garrafa) e a agarrarem-se a esta pantera cor-de-rosa da Croft (que custa quase dez…)!
Eu vou seguramente continuar a beber os meus Vintage e LBV.

sábado, 26 de julho de 2008

Quinta da Cortezia Reserva 2001



Vinho Regional da Estremadura
Quinta da Cortezia - Alenquer
13,64€ Jumbo
16/20

A Quinta da Cortezia é uma propriedade familiar sita em Aldeia Gavinha, no concelho de Alenquer, a escassos 50 Km de Lisboa, pertença, há quase um século, da família Reis Catarino, sendo Miguel Reis Catarino, engenheiro agrónomo licenciado pelo ISA e especializado em França em viticultura e enologia, o seu responsável enológico.
Possui 103 hectares de terra divididos entre a vinha (66ha) e a floresta (37ha). O encepamento é essencialmente tinto (80%) com predominância da touriga nacional e tinta Roriz, mas também com alguma trincadeira, merlot, castelão e Alicante-bouschet. As uvas da casa dão origem a duas marcas: a vinha conchas e a quinta da cortezia, de que este Reserva é o topo de gama.
De cor granada mostra brilho, concentração e viscosidade médias. O nariz é muito balsâmico com notas de madeira de qualidade, cânfora e frutos roxos. À boa fruta juntam-se notas de marroquinaria, metal amarelo e algum álcool canforado que acentuam a complexidade do aroma, após agitar. O nariz termina com um agradável bouquet frutado.
Na boca revela acidez algo elevada ainda que não muito impositiva. A fruta continua roxa e silvestre num corpo médio e levemente adstringente, ainda que aveludado. Finaliza com persistência mediana.
É indiscutivelmente um vinho bem feito e de elevada qualidade ainda que de perfil mais tradicional. Vocacionado para quem prefere um bom vinho típico da Estremadura às “bombas” de cor e fruta que vão abundando no mercado...

domingo, 6 de julho de 2008

Quinta do Minho Loureiro 2006



Verde DOC
Quinta do Minho (Póvoa de Lanhoso)
3,78€ Jumbo
16/20

A Quinta do Minho teve origem numa empresa criada por António Pires da Silva, vocacionada para a comercialização de vinho verde. No início dos anos 90 a empresa de Bárrio, Póvoa de Lanhoso, decidiu criar a Quinta com o objectivo de produzir vinho destinado a um segmento superior do mercado. Actualmente a Quinta possui 10 hectares de vinha, plantados com a casta Loureiro e dispõe de excelentes condições para acolher visitantes. Sob a responsabilidade de Paula Moreira produz as marcas Quinta do Minho Loureiro, Campo da Vinha (para o grupo Unicer) e Porta Nova.
De cor amarelo palha, límpida, brilhante e de viscosidade média, não é seguramente um verde tradicional. No nariz as notas de citrinos cruzam-se com alguma caruma e fruta mais doce. Após agitar revela boa frescura, com elegância e leve mineralidade, sempre com a fruta bem presente, citrinos e alguma maçã verde. Termina mesmo com leve bouquet frutado.
Na boca revela bom corpo, bolha fina e acidez não muito elevada para um vinho verde. É um verde de perfil moderno e de maior complexidade. Quase um branco de Inverno. Notas de citrino doce (abacaxi) e de maçã assada.. Final com persistência e elegância.
Com um preço imbatível.
Decididamente tudo está a mudar nos vinhos verdes… E para melhor!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Cimarosa Syrah Gran Reserva 2004


Via Wine Group – Central Valley – Chile
3,99€ LIDL
15,5/20

Com este é já o terceiro monovarietal que provo deste gigante chileno (possui 1358 hectares de vinha distribuídos por quarto vales: Casablanca, Colchagua, Curicó e Maule, grupo liderado enologicamente por Juan Pable Cajas com participação do francês Michel Laroche de Chablis) e é talvez o menos original e conseguido (depois do excelente Pinot Noir e do original Carmenére).
Não obstante este Syrah, sobretudo olhando à módica quantia que custou, não se apresenta nada mal! Óptima cor, concentrada e de elevada opacidade, bom brilho e viscosidade mediana. Aroma muito frutado com notas balsâmicas, compotas de frutos silvestres, bem maduros, e alguma cânfora. Após agitar surgem notas metálicas, de couro e de café, num nariz com alguma complexidade, fiel aos bons princípios da casta que lhe está na origem.
A boca é correctíssima, concentrada, com frutos roxos e vermelhos, bem como algum vegetal seco. Taninos suaves e aveludados, em contraste com a acidez, mais elevada. Alguma compota. Finaliza sem defeitos e com assinalável persistência.
Em suma um vinho extremamente correcto, de inegável qualidade e alguma complexidade, sobretudo no nariz. Disponível nos supermercados LIDL (a marca Cimarosa é exclusiva deste grupo de distribuição) por menos de 4,00€… É obra.

sábado, 14 de junho de 2008

Vale do Rico Homem, Branco 2007



Vinho Regional Alentejano
Monte dos Perdigões (Reguengos de Monsaraz)
3,49€ Pingo Doce
15/20

Este Vale do Rico Homem é uma marca produzida pelo Monte dos Perdigões (propriedade que já foi de Damião de Góis e Luís de Freitas Branco e agora é pertença do ex-presidente da PT, Henrique Granadeiro) na região de Reguengos de Monsaraz, para o grupo Jerónimo Martins (proprietários dos supermercados Pingo Doce e Feira Nova). A responsabilidade enológica é de Paulo Laureano nesta propriedade centenária cujo ícone vinícola é o Tapada do Barão (no caso o Barão holandês Sloettot Everlo, antepossuidor da propriedade que concebeu a respectiva adega).
Granadeiro é alentejano e está há muito ligado ao vinho através da Fundação Eugénio de Almeida (que produz os vinhos Pêra Manca ou Cartuxa), fazendo parte do respectivo conselho de administração desde 1987. Em 1997 realizou o sonho de produzir o seu próprio vinho adquirindo a histórica propriedade do Monte dos Perdigões e ampliando a respectiva adega em 2006, com as mais modernas técnicas de vinificação e uma cuidada arquitectura, recorrendo aos bonitos mármores alentejanos.
Apesar de não ser um vinho emblemático da casa, antes um produto massificado para a grande distribuição, este vinho apresenta-se bem, límpido, brilhante de cor citrina e viscosidade baixa como é jaez dos brancos. O nariz é aromático com frutos tropicais, citrinos, boa frescura e leve mineral, num perfil mais fresco do que é habitual no Alentejo. Secundariamente a fruta fresca liberta-se de forma sedutora, com levíssimo anisado, de modo elegante e apelativo.
A boca porém não é tão conseguida quanto o nariz. Redondo e frutado, revela compotas e ligeiro rebuçado, com a acidez apenas mediana. O paladar é dominado pelos citrinos num vinho apenas correcto, embora ainda assim elegante.
Finaliza sem defeitos e com persistência de média duração. Um alentejano muito correcto, com uma excelente relação preço/qualidade.