terça-feira, 24 de junho de 2008

Cimarosa Syrah Gran Reserva 2004


Via Wine Group – Central Valley – Chile
3,99€ LIDL
15,5/20

Com este é já o terceiro monovarietal que provo deste gigante chileno (possui 1358 hectares de vinha distribuídos por quarto vales: Casablanca, Colchagua, Curicó e Maule, grupo liderado enologicamente por Juan Pable Cajas com participação do francês Michel Laroche de Chablis) e é talvez o menos original e conseguido (depois do excelente Pinot Noir e do original Carmenére).
Não obstante este Syrah, sobretudo olhando à módica quantia que custou, não se apresenta nada mal! Óptima cor, concentrada e de elevada opacidade, bom brilho e viscosidade mediana. Aroma muito frutado com notas balsâmicas, compotas de frutos silvestres, bem maduros, e alguma cânfora. Após agitar surgem notas metálicas, de couro e de café, num nariz com alguma complexidade, fiel aos bons princípios da casta que lhe está na origem.
A boca é correctíssima, concentrada, com frutos roxos e vermelhos, bem como algum vegetal seco. Taninos suaves e aveludados, em contraste com a acidez, mais elevada. Alguma compota. Finaliza sem defeitos e com assinalável persistência.
Em suma um vinho extremamente correcto, de inegável qualidade e alguma complexidade, sobretudo no nariz. Disponível nos supermercados LIDL (a marca Cimarosa é exclusiva deste grupo de distribuição) por menos de 4,00€… É obra.

sábado, 14 de junho de 2008

Vale do Rico Homem, Branco 2007



Vinho Regional Alentejano
Monte dos Perdigões (Reguengos de Monsaraz)
3,49€ Pingo Doce
15/20

Este Vale do Rico Homem é uma marca produzida pelo Monte dos Perdigões (propriedade que já foi de Damião de Góis e Luís de Freitas Branco e agora é pertença do ex-presidente da PT, Henrique Granadeiro) na região de Reguengos de Monsaraz, para o grupo Jerónimo Martins (proprietários dos supermercados Pingo Doce e Feira Nova). A responsabilidade enológica é de Paulo Laureano nesta propriedade centenária cujo ícone vinícola é o Tapada do Barão (no caso o Barão holandês Sloettot Everlo, antepossuidor da propriedade que concebeu a respectiva adega).
Granadeiro é alentejano e está há muito ligado ao vinho através da Fundação Eugénio de Almeida (que produz os vinhos Pêra Manca ou Cartuxa), fazendo parte do respectivo conselho de administração desde 1987. Em 1997 realizou o sonho de produzir o seu próprio vinho adquirindo a histórica propriedade do Monte dos Perdigões e ampliando a respectiva adega em 2006, com as mais modernas técnicas de vinificação e uma cuidada arquitectura, recorrendo aos bonitos mármores alentejanos.
Apesar de não ser um vinho emblemático da casa, antes um produto massificado para a grande distribuição, este vinho apresenta-se bem, límpido, brilhante de cor citrina e viscosidade baixa como é jaez dos brancos. O nariz é aromático com frutos tropicais, citrinos, boa frescura e leve mineral, num perfil mais fresco do que é habitual no Alentejo. Secundariamente a fruta fresca liberta-se de forma sedutora, com levíssimo anisado, de modo elegante e apelativo.
A boca porém não é tão conseguida quanto o nariz. Redondo e frutado, revela compotas e ligeiro rebuçado, com a acidez apenas mediana. O paladar é dominado pelos citrinos num vinho apenas correcto, embora ainda assim elegante.
Finaliza sem defeitos e com persistência de média duração. Um alentejano muito correcto, com uma excelente relação preço/qualidade.

domingo, 8 de junho de 2008

Nogueira's Port - Aloirado Claro Doce


Nogueira’s Port
Porto Aloirado Claro Doce
Sociedade de Vinhos F. Nogueira (Vila Nova de Gaia)
16,5/20

Esta é uma velha garrafa de família, desprezada durante duas gerações, até que este enófilo curioso se sentiu tentado a dar-lhe um bom uso. Desconheço a idade exacta, até porque a companhia em questão já não existe, nem é fácil recolher indicações sobre o seu destino na Internet, no entanto estimo que a aquisição tenha ocorrido há perto de 40 anos…
É muito curiosa a designação Aloirado Claro Doce, indicadora também da sua antiguidade, já que desde há muitos anos que se generalizou a designação tawny para os vinhos tintos envelhecidos em pipa (e por isso com acentuado processo de oxidação, que acelera a descoloração característica deste tipo de envelhecimento do Porto).
O facto de ser apelidado de Aloirado Claro deveria significar que se trata de um vinho que atingiu a etapa mais alta do processo de envelhecimento em barris. Atingiu o pico da sua carreira: a cor dourada.
Estamos portanto perante um vinho que já deveria ter algumas dezenas de anos (pelo menos em idade média do lote) quando foi engarrafado (aparentemente por volta de finais dos anos 60) permanecendo desde então mais 40 anos em garrafa (embora calculo que nem sempre nas melhores condições de preservação).
Mostrou uma cor âmbar linda, claramente denunciadora da idade, e uma limpeza e brilho que as fracas condições de armazenamento não faziam prever. A viscosidade apresentou-se contudo mediana, sobretudo se considerarmos a avançada idade…
O nariz revela algum álcool, mas exibe excelentes notas de frutos secos e mel às quais, após agitar, advém ainda uma frescura quase metálica.
É um vinho redondo e cremoso na boca, com notas de passas, mel, bolo inglês, num conjunto personalizado e carregado de finesse. Afinal os receios mostraram-se infundados, parece estar em excelente forma. Muito macio e elegante sentindo-se como única aresta o álcool surpreendentemente vivo para a idade. Termina com grande elegância e com boa persistência.
Sem dúvida, uma boa surpresa.

Casal d'Além Arinto 2006


Casal d’Além Arinto 2006
Bucelas DOC
Carlos Canário (Bucelas)
14,5/20

Já tive oportunidade de tecer algumas considerações acerca das virtudes do Arinto e das potencialidades da região de Bucelas para o seu cultivo. A sua semelhança com os vinhos do Reno fez já correr muita tinta, numa acesa polémica sobre se foram os alemães a levarem os Arinto até ao Reno ou se foram os portugueses (há quem afirme que por ordem do Marquês de Pombal) a importarem as castas teutónicas para terras do concelho de Loures. Certo é que desde a Guerra Peninsular, ao que parece por iniciativa do Duque de Wellington e como oferta ao Rei Jorge III, os vinhos de Bucelas são conhecidos e apreciados em terras britânicas, conhecido como “Lisbon Hock”, o vinho de Lisboa.
Depois de uma fase de declínio e quase extinção, os últimos 20 anos têm sido de profunda renovação e de forte investimento no vinho de Bucelas, particularmente no Arinto (embora também o Sercial/Esgana-Cão e o Rabo-de-Ovelha sejam admitidos a certificação como Bucelas DOC). Além das históricas Caves Velhas (que tiveram origem nas velhas adegas Camillo Alves), proprietárias de marcas de grande tradição como o Bucellas e que tem hoje o seu património vinícola alargado a várias regiões do país (Douro, Dão, Bairrada, Vinhos Verdes, Estremadura, Palmela, Carcavelos, Colares, Vinho do Porto, Alentejo e Ribatejo) temos um novo peso pesado, actualmente propriedade do mediático comendador Joe Berardo, a Companhia das Quintas, cuja origem esteve na Quinta da Romeira, em Bucelas, mas à qual se juntaram muitas outras espalhadas por todo o país vinícola (Pancas, Cardo, Farizoa entre outras), proprietária do best seller da região o famoso Prova Régia.
Mas para além destes grandes produtores há também muitos pequenos a investir em Bucelas e no Arinto. E é de um desses que vou falar hoje, cujo vinho (um extreme de Arinto) Casal d’Além me foi igualmente apresentado por gentileza do restaurante Quinta do Almirante, em Ponte de Frielas.
Carlos Canário formou-se em enologia em 1989 e esteve dois anos a estagiar no Sonoma Valley, na Califórnia, onde adquiriu o saber do novo mundo vinícola. De regresso a Portugal trabalhou como enólogo em vários produtores nacionais, da Bairrada ao Ribatejo, passando naturalmente por Bucelas, até se lançar, em 2003, num projecto próprio denominado Casal d’Além.
Este Casal d’Além 2006 apresenta-se de cor amarelo palha, límpido e de brilho e viscosidade médias. Tem um nariz muito frutado, típico Arinto, onde as notas doces e ácidas se cruzam numa indefinição sedutora. Secundariamente revela-se fresco com a uva de mesa a encontrar agradáveis notas de menta e leve mineral. Na boca revelou contudo uma secura que o nariz não fazia prever (secura essa que a oxidação foi progressivamente eliminando, apesar da agressividade inicial). Paladar limpo mas seco. Acidez não muito elevada, o que o torna um vinho ligeiramente plano. Algumas notas de fruta (citrinos, marmelos e maçã verde) num vinho que se mostrou de perfil mais gastronómico. Finalizou limpo e correcto e com alguma persistência.